domingo, 24 de janeiro de 2010

EM JORDÃO IGREJA CATÓLICA CELEBROU FERIADO COM PROCISSÃO EM LOUVOR A SÃO SEBASTIÃO





Quarta-feira, dia 20 de janeiro, feriado municipal, Jordão celebrou o dia de São Sebastião, padroeiro da cidade.

A comunidade São Sebastião comemorou a data com uma procissão, onde o espírito de renovação, penitência, adoração e agradecimento levaram centenas de pessoas às ruas de Jordão para participar da procissão de encerramento do Novenário de São Sebastião. A manifestação religiosa é a maior e uma das mais importantes do município.

Nesse ano o tema trabalhado durante o Novenário foi aprofundar a fé, crescer nos princípios cristãos a exemplo de São Sebastião, que foi fiel a Jesus Cristo e a seu projeto.

A manifestação de fé e de penitência dos fieis pôde ser vista em todo o percurso da procissão. Centenas de pessoas percorreram as principais ruas de Jordão cantando e louvando a Deus em agradecimento.

O ponto de partida da procissão foi a Avenida Francisco Dias em frente à igreja. Os fiéis seguiram pela Avenida passando pela Rua Senador Altevir Leal, Rua Romildo Magalhães, Rua Ilmar Galvão até chegar novamente a Avenida Francisco Dias. A caminhada começou a partir das 18 horas, e para a procissão e celebração, a comunidade São Sebastião recebeu fieis de varias localidades, pois, como sempre em razão da tradição e da religiosidade dos Jordanenses, a procissão reuniu pessoas dos seringais vizinhos, aldeias, colônias e de outras cidades, incluindo os que já não moram mais no Jordão, mas não deixam de vir para participar.

As comemorações em honra a São Sebastião começaram no dia onze, data em que foram iniciadas as novenas. E durante esse período, houve celebração de missas, muitos batizados e meditação do rosário.


Celebração da Santa missa.20/01/ 2010-Jordão
Fonte
Rádio FM Cultural de Jordão

Matéria: Mauro Brito

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

JORDÃO NOVENÁRIO DE SÃO SEBASTIÃO.



NOVENÁRIO SÃO SEBASTIÃO -JORDÃO








Com uma novena que iniciou às 19h30min da noite do dia 10 segunda-feira ministrada pela Irmã Nonata, Senhoras Ronalda Saraiva e Nágela Figueiredo, a comunidade São Sebastião de Jordão início ao novenário de São Sebastião, umas das mais importantes e maiores festa houve novena todas as noites até o dise seguiram os leilões de prendas que são doadas pelos comerciantes, entidades e fiéis devotos a São Sebastião. Dia 20, dia do padroeiro acontece a procissão, que costuma levar para as ruas centenas de pessoas, em um verdadeiro sinal de fé que em razão da tradição e da religiosidade dos jordanenses reúne pessoas de várias localidades inclusive de outras cidades, incluindo os que já não moram mais no Jordão, mas não deixam de vir para participar das festividades.
A comunidade todos os anos desenvolve temas para ser transmitido aos fiéis durante o novenário. Segundo Irmã Nonata (liderança local da igreja católica) neste ano o tema a ser refletido pelos fiéis será aprofundar a fé, crescer nos princípios cristãos a exemplo de São Sebastião, que foi fiel a Jesus Cristo e a seu projeto.
A festa católica tem exigido a dedicação de centenas de fieis voluntários como é o caso do grupo de lideranças da comunidade que é formado por jovens, crianças, homens e mulheres que ajudam na preparação da liturgia, cânticos, ornamentação e limpeza da igreja para que tudo corra bem em todos os detalhes até a chegada do Padre que vem da cidade vizinha (Tarauacá) para finalizar a festividade.







Novenário de São Francisco à São Sebastião
 um pouco de história.

Em conversa com o Prefeito Hilário Melo e Srª Maria Nauila de Oliveira Farias (aposentada) ambos relataram um breve histórico da festividade que vem sendo celebrada desde 1952. Antes, no Jordão não se comemorava a festa de São Sebastião, era comemorada apenas a festa em honra a São Francisco pelo Senhor Francisco Dias oriúndo de Piauí. Em 1956. O pai do atual prefeito Hilário de Melo,vindo das cabeceiras do rio jordão , reuniu aproximadamente 7 a 8 comerciantes  e etes deram um pouco de vida ao Novenário de São Francisco, confiando assim oevento ao senhor Francisco Dias.Encontramos hoje ainda em honra deste senhor a Rua Francisco Dias onde fica localizada a Igreja
A festa em honra a São Sebastião era comemorada em um seringal (São Paulo) nas cabeceiras do Rio Tarauacá (hoje desabitado), era organizado pela família ALVES. Tempos depois a família mudou-se para o Jordão trazendo consigo todos os aparatos que se utilizava para o novenário no seringal São Paulo. Já em 1952 resolveram realizar a festa em honra a São Sebastião no Jordão. A primeira. E segundo eles, o sino que hoje é usado na comunidade é o mesmo que se utilizava no seringal São Paulo. Relataram ainda a passagem do primeiro Padre nas festividades em honra a São Sebastião no Jordão que foi o Padre Raimundo Gonçalves, em seguida outros padres estiveram por aqui até chegar à vez do Padre Hubert que passou (32 anos) fazendo casamentos, batizados e desobrigas na região.

Embora o aspecto religioso seja o principal objetivo do novenário, Jordão tem um grande movimento em sua economia, especialmente no setor do comércio e serviços. As tradicionais barracas já estão montadas desde o natal. Os empresários do ramo acreditam que essa época do ano é ótima para os negócios, devido o grande fluxo de pessoas, pois muita gente do interior vem à cidade e sempre reservam um dinheirinho a mais para gastar. Desta forma o novenário e a procissão já fazem parte da tradicional vida do povo jordanense tornando-se um referencial na organização da vida dos produtores rurais, moradores dos seringais e das aldeias que se programam para estar na cidade nesse período para além de se divertir, comprar e usar desse momento de fé para agradecer e estar em comunhão com as pessoas para pedir a Deus e a São Sebastião que continue abençoando o Jordão.


Fonte:
Rádio FM Cultural de Jordão
Matéria: Mauro Brito

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um vazio para a família espiritana. Faleceu o Padre Adélio Torres Neiva



Faleceu na tarde do dia 10 de Janeiro, o Padre Adélio Torres Neiva, missionário espiritano.


Nascido em Esposende, cedo entrou no Seminário Espiritano, fazendo o seu percurso até à Ordenação, em 1956. Olhando às suas qualidades académicas e ao seu gosto pela História, os Superiores enviaram-no a Coimbra onde terminaria, em 1961, a Licenciatura em História, na Faculdade de Letras.

Nomeado para a Casa Provincial, em Lisboa, dirigiu a revista ‘Portugal em África’ e fundou a revista ‘Encontro’ em 1962. Foi professor largos anos, no Seminário da Torre d’Aguilha, no Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET) e, mais recentemente, leccionou Missiologia na Universidade Católica.
De Roma ao mundo
Roma acolhê-lo-ia durante 12 anos quando foi eleito Conselheiro Geral. De 1974 a 1986, percorreu os 50 países onde os Espiritanos trabalham, a fim de avaliar a Missão que se fazia e de estimular a mais comunhão. Escreveu numerosas crónicas que mostram o rosto plural de Missão que se vivia com os muçulmanos da Argélia ou Mauritânia, com as populações ribeirinhas da Amazónia, com os pobres excluídos que ousam sobreviver nas periferias das grandes cidades da Nigéria, da Tanzânia, do Congo, de Angola ou do Brasil.... Foram tempos que o marcaram e que o tornaram muito conhecido em todo o mundo espiritano, a ponto de ser convidado para conferências, retiros e comissões nos quatro cantos da terra.


Lisboa, ponto de partida...

Lisboa voltou a recebê-lo de braços abertos. A Revista ‘Encontro’, as aulas, as muitas conferências e Retiros fizeram-no percorrer este país real. A sua credibilidade académica levou organizadores de Enciclopédias e outras obras colectivas a pedir-lhe colaboração, pelo que tem entradas em diversas publicações científicas, sendo a mais recente, a História Religiosa de Portugal, dirigida por D. Carlos Azevedo. Vimo-lo, nos últimos tempos, a proferir conferências sobre Missão e Espiritualidade, a convite de Dioceses, Paróquias e Institutos. Deslocou-se, com frequência, ao estrangeiro, para reuniões internacionais, nos âmbitos da História e da Missiologia, pertencendo a diversas Comissões Internacionais. Orientou um Retiro a toda a Conferência Episcopal Portuguesa.


A arte de comunicar...
Comunicar sempre foi o seu forte. Dirigia até agora as revistas ‘Vida Consagrada’ e ‘Missão Espiritana’. Colaborava, todos os meses, no jornal ‘Acção Missionária’, com um texto de reflexão sobre o ‘Ano Sacerdotal’ e uma ‘Parábola’. Era um contador de histórias e um homem da História. Era uma referência de Espiritualidade, um perito em Missão. Daí que tenha sido, anos a fio, professor de Missiologia na Universidade Católica e no Curso de Missiologia que se realiza todos os anos em Fátima.



Do seu curriculum constam 112 artigos científicos, salientando-se a ‘História da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo (2003, com prefácio de D. Manuel Clemente) e a ‘História da LIAM’ (2007). Para uma animação missionária do nosso povo, aceitou o convite para escrever quatro obras que permitiram aos grupos missionários da LIAM e Jovens Sem Fronteiras aprofundar, mês após mês, temas sobre a Igreja e a Missão: ‘Com a força do Espírito’ (2002), ‘O Leigo, Vocação para a Missão’ (2004), ‘Sereis minhas testemunhas: a Missão na Bíblia’ (2006) e ‘S. Paulo e a Missão sem fronteiras’ (2008).
O prémio da História..
A notícia foi colhida com surpresa, a 4 de Setembro: a Academia Portuguesa de História nomeou-o seu membro honorário, pelo contributo que deu à investigação histórica em Portugal. É uma honra para a Igreja e um estímulo a aprofundar mais o diálogo entre a Fé e a Cultura, desafios que J. Paulo II, na ‘Missão de Cristo Redentor’, colocou no patamar da participação nos novos areópagos da Missão hoje

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz
Bento XVI


Mensagem de Bento XVI para a celebração do Dia Mundial da Paz
«Se queres cultivar a paz, preserva a criação»

1. Por ocasião do início do Ano Novo, desejo expressar os mais ardentes votos de paz a todas as comunidades cristãs, aos responsáveis das nações, aos homens e mulheres de boa vontade do mundo inteiro. Para este XLIII Dia Mundial da Paz, escolhi o tema: Se queres cultivar a paz, preserva a criação. O respeito pela criação reveste-se de grande importância, designadamente porque «a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus» (1) e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacífica da humanidade. Com efeito, se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral, devido à desumanidade do homem para com o seu semelhante – guerras, conflitos internacionais e regionais, actos terroristas e violações dos direitos humanos – não são menos preocupantes os perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e aos bens naturais que Deus nos concedeu. Por isso, é indispensável que a humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho»(2).



2. Na encíclica Caritas in veritate, pus em realce que o desenvolvimento humano integral está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras. Assinalei também que corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade, quando a natureza e sobretudo o ser humano são considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo (3). Pelo contrário, conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade ajuda-nos a compreender a vocação e o valor do homem; na realidade, cheios de admiração, podemos proclamar com o salmista: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8,4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas» (4).



3. Há vinte anos, ao dedicar a Mensagem do Dia Mundial da Paz ao tema Paz com Deus criador, paz com toda a criação, o Papa João Paulo II chamava a atenção para a relação que nós, enquanto criaturas de Deus, temos com o universo que nos circunda. «Observa-se nos nossos dias – escrevia ele – uma consciência crescente de que a paz mundial está ameaçada (…) também pela falta do respeito devido à natureza». E acrescentava que esta consciência ecológica «não deve ser reprimida mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas» (5). Já outros meus predecessores se referiram à relação existente entre o homem e o ambiente; por exemplo, em 1971, por ocasião do octogésimo aniversário da encíclica Rerum novarum de Leão XIII, Paulo VI houve por bem sublinhar que, «por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o homem] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E acrescentou que, deste modo, «não só o ambiente material se torna uma ameaça permanente – poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é o próprio contexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim para o dia de amanhã um ambiente global que se lhe poderá tornar insuportável. Problema social de grande envergadura, que diz respeito a toda a família humana» (6).



4. Embora evitando intervir sobre soluções técnicas específicas, a Igreja, «perita em humanidade», tem a peito chamar vigorosamente a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Em 1990, João Paulo II falava de «crise ecológica» e, realçando o carácter prevalentemente ético de que a mesma se revestia, indicava «a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade» (7). Hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Como ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertificação, a deterioração e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenómeno crescente dos chamados «refugiados ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.



5. Entretanto tenha-se na devida conta que não se pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação. Por isso, é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também reflectir sobre o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e sobretudo a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por toda a parte (8). A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural; precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. As situações de crise que está atravessando, de carácter económico, alimentar, ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas. Elas obrigam a projectar de novo a estrada comum dos homens. Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando com confiança e coragem nas experiências positivas realizadas e rejeitando decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise actual se torne uma ocasião para discernimento e nova planificação.



6. Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos «natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade» (9). Nas suas páginas iniciais, o livro do Génesis introduz-nos no projecto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus que, no vértice, colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para «encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus (cf. Gn 1,28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3,17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Génesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso» (10), enquanto que a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o Qual nela colocou leis intrínsecas a fim de que o homem daí pudesse deduzir as orientações necessárias para a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2,15) (11). Tudo o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, «mais tiranizada que governada por ele» (12). O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a (13).



7. Infelizmente temos de constatar que um grande número de pessoas, em vários países e regiões da terra, experimenta dificuldades cada vez maiores, porque muitos se descuidam ou se recusam a exercer sobre o ambiente um governo responsável. O Concílio Ecuménico Vaticano II lembrou que «Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos» (14). Por isso, a herança da criação pertence à humanidade inteira. Entretanto o ritmo actual de exploração põe seriamente em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais não só para a geração actual, mas sobretudo para as gerações futuras (15). Ora não é difícil constatar como a degradação ambiental é muitas vezes o resultado da falta de projectos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses económicos, que se transformam, infelizmente, numa séria ameaça para a criação. Para contrastar tal fenómeno, na certeza de que «cada decisão económica tem consequências de carácter moral» (16), é necessário também que a actividade económica seja mais respeitadora do ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com a sua preservação prevendo também os seus custos em termos ambientais e sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da actividade económica. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais dar os justos sinais para contrastar de modo eficaz, no uso do ambiente, as modalidades que resultem danosas para o mesmo. Para proteger o ambiente e tutelar os recursos e o clima é preciso, por um lado, agir no respeito de normas bem definidas mesmo do ponto de vista jurídico e económico e, por outro, ter em conta a solidariedade devida a quantos habitam nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.



8. Na realidade, é urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras. «Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence também a cada um dos Estados e à comunidade internacional» (17). O uso dos recursos naturais deverá verificar-se em condições tais que as vantagens imediatas não comportem consequências negativas para os seres vivos, humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade privada não dificulte o destino universal dos bens (18); que a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados: «A comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro» (19). A crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projecte no espaço e no tempo. Com efeito, é importante reconhecer, entre as causas da crise ecológica actual, a responsabilidade histórica dos países industrializados. Contudo os países menos desenvolvidos e, de modo particular, os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para com a criação, porque o dever de adoptar gradualmente medidas e políticas ambientais eficazes pertence a todos. Isto poder-se-ia realizar mais facilmente se houvesse cálculos menos interesseiros na assistência, na transferência dos conhecimentos e tecnologias menos poluidoras.



9. Uma das questões principais a enfrentar pela comunidade internacional é, sem dúvida, a dos recursos energéticos, delineando estratégias compartilhadas e sustentáveis para satisfazer as necessidades de energia da geração actual e das gerações futuras. Para isso, é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização. Ao mesmo tempo é preciso promover a pesquisa e a aplicação de energias de menor impacto ambiental e a «redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso aos mesmos» (20). Deste modo, a crise ecológica oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma resposta colectiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global segundo uma direcção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano integral, inspirado nos valores próprios da caridade na verdade. Faço votos, portanto, de que se adopte um modelo de desenvolvimento fundado na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude que indica as acções que se devem realizar hoje na previsão do que poderá suceder amanhã (21).



10. A fim de guiar a humanidade para uma gestão globalmente sustentável do ambiente e dos recursos da terra, o homem é chamado a concentrar a sua inteligência no campo da pesquisa científica e tecnológica e na aplicação das descobertas que daí derivam. A «nova solidariedade», que João Paulo II propôs na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990 (22), e a «solidariedade global», a que eu mesmo fiz apelo na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009 (23), apresentam-se como atitudes essenciais para orientar o compromisso de tutela da criação através de um sistema de gestão dos recursos da terra melhor coordenado a nível internacional, sobretudo no momento em que se vê aparecer, de forma cada vez mais evidente, a forte relação que existe entre a luta contra a degradação ambiental e a promoção do desenvolvimento humano integral. Trata-se de uma dinâmica imprescindível, já que «o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade» (24). Muitas são hoje as oportunidades científicas e os potenciais percursos inovadores, mediante os quais é possível fornecer soluções satisfatórias e respeitadoras da relação entre o homem e o ambiente. Por exemplo, é preciso encorajar as pesquisas que visam identificar as modalidades mais eficazes para explorar a grande potencialidade da energia solar. A mesma atenção se deve prestar à questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidrológico global, cujo ciclo se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas. De igual modo deve-se procurar apropriadas estratégias de desenvolvimento rural centradas nos pequenos cultivadores e nas suas famílias, sendo necessário também elaborar políticas idóneas para a gestão das florestas, o tratamento do lixo, a valorização das sinergias existentes entre a oposição às alterações climáticas e a luta contra a pobreza. São precisas políticas nacionais ambiciosas, completadas pelo necessário empenho internacional que há-de trazer importantes benefícios sobretudo a médio e a longo prazo. Enfim, é necessário sair da lógica de mero consumo para promover formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos. A questão ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há-de ser a busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum. Por outro lado, como já tive ocasião de recordar, a técnica «nunca é simplesmente técnica; mas manifesta o homem e as suas aspirações ao desenvolvimento, exprime a tensão do ânimo humano para uma gradual superação de certos condicionamentos materiais. Assim, a técnica insere-se no mandato de “cultivar e guardar a terra” (cf. Gn 2,15) que Deus confiou ao homem, e há-de ser orientada para reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente em que se deve reflectir o amor criador de Deus» (25).



11. É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e até económico. Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza a todos a adoptarem novos estilos de vida, «nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento» (26). Deve-se educar cada vez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes a nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela protecção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras. Segundo o princípio de subsidiariedade, é importante que cada um, no nível que lhe corresponde, se comprometa a trabalhar para que deixem de prevalecer os interesses particulares. Um papel de sensibilização e formação compete de modo particular aos vários sujeitos da sociedade civil e às organizações não-governamentais, empenhados com determinação e generosidade na difusão de uma responsabilidade ecológica, que deveria aparecer cada vez mais ancorada ao respeito pela «ecologia humana». Além disso, é preciso lembrar a responsabilidade dos meios de comunicação social neste âmbito, propondo modelos positivos que sirvam de inspiração. É que ocupar-se do ambiente requer uma visão larga e global do mundo; um esforço comum e responsável a fim de passar de uma lógica centrada sobre o interesse egoísta da nação para uma visão que sempre abrace as necessidades de todos os povos. Não podemos permanecer indiferentes àquilo que sucede ao nosso redor, porque a deterioração de uma parte qualquer do mundo recairia sobre todos. As relações entre pessoas, grupos sociais e Estados, bem como as relações entre homem e ambiente são chamadas a assumir o estilo do respeito e da «caridade na verdade». Neste contexto alargado, é altamente desejável que encontrem eficaz correspondência os esforços da comunidade internacional que visam obter um progressivo desarmamento e um mundo sem armas nucleares, cuja mera presença ameaça a vida da terra e o processo de desenvolvimento integral da humanidade actual e futura.



12. A Igreja tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo. Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, «quando a “ecologia humana”é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental» (27). Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social (28). Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros. Por isso, de bom grado encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na encíclica Caritas in veritate, salvaguarde uma autêntica «ecologia humana» e consequentemente afirme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza (29). É preciso preservar o património humano da sociedade. Este património de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação.



13. Por fim não se deve esquecer o facto, altamente significativo, de que muitos encontram tranquilidade e paz, sentem-se renovados e revigorados quando entram em contacto directo com a beleza e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós. Por outro lado, uma visão correcta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa. Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos. Deste modo, chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da «dignidade» de todos os seres vivos. Assim se dá entrada a um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem. Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da «gramática» que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar mas também não pode abdicar. Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana (30).



14. Se queres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição. Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e redentora de Cristo que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1,20). Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados os «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3,13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há-de enfrentar com renovado e comum empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são realidades intimamente ligadas entre si. Por isso, convido todos os crentes a elevarem a Deus, Criador omnipotente e Pai misericordioso, a sua oração fervorosa, para que no coração de cada homem e de cada mulher ressoe, seja acolhido e vivido o premente apelo: Se queres cultivar a paz, preserva a criação.