quarta-feira, 25 de setembro de 2019

“Sair da sacristia”. Artigo de Dom Sérgio Eudardo Castriani, CSSp - Arcebispo de Manaus.


“É impossível para a Igreja ficar calada diante das injustiças e da opressão a que foram submetidos os povos originários da Amazônia. Enquanto não houver um diálogo sincero e vital com estes povos a nossa história estará incompleta, porque ainda não estaremos vivendo a encarnação”, escreve Dom Sérgio Eudardo Castriani, arcebispo de Manaus, em artigo publicado pelo Portal das Comunidades Eclesiais de Base, 16-09-2019.


Artigo na íntegra

A preparação do Sínodo da Amazônia tem dado muito o que falar. O fato da Igreja estar tocando em assuntos que aparentemente não são de sua alçada, tem levado empresários, generais e políticos a se posicionarem contra o fato das Conferências Episcopais estarem falando de mudanças climáticas, desmatamento, poluição das águas e do ar.
Um general chegou a sugerir que se os bispos quiserem os dados sobre o meio ambiente deveriam procurar o governo, que tem instituições competentes para monitorar e implementar medidas eficazes na proteção de nossa biodiversidade e potencial hídrico. Ora, o Papa fez mais que isto ao escrever a “Laudato Si”, chamando os mais renomados cientistas para colaborar, no documento que é o carro chefe deste pontificado e o verdadeiro pai do Sínodo da Amazônia.
Sentindo-se incomodados pela fala dos que foram constituídos protagonistas do processo sinodal, os povos originários, que denunciaram a onda de destruição e morte que os atuais governantes estão impondo à região, apelaram para o velho chavão de que Igreja boa é aquela que fica na sacristia falando de temas espirituais, como se fé e vida não se tocassem. Religião trata de temas espirituais e morais individuais, mas quando o assunto é sério, sobretudo quando entra a razão do mercado, a religião não tem mais nada a dizer?
O cristianismo não é assim. A nossa fé diz que o Verbo de Deus se encarnou, se fez homem e habitou entre nós. Deus entrou na história humana e está comprometido com ela. Podemos dizer que Deus ao se submeter às leis da natureza em Jesus sofre junto com a humanidade a destruição do meio ambiente que afeta todas as criaturas. E, como Paulo, sabemos que os sofrimentos da humanidade completam os sofrimentos de Jesus. Esta é a razão profunda pela qual a Igreja se coloca como voz dos que não têm voz. Não é só a razão de mercado que tem razão. E a razão é que Deus amou tanto o Mundo que enviou seu Filho para salvá-lo. A encarnação tem a finalidade de recriar o mundo.
É impossível para a Igreja ficar calada diante das injustiças e da opressão a que foram submetidos os povos originários da Amazônia. Enquanto não houver um diálogo sincero e vital com estes povos a nossa história estará incompleta, porque ainda não estaremos vivendo a encarnação. A invasão do Continente Americano, a espoliação das suas riquezas, os massacres e os genocídios foram e são até hoje um grande mal-entendido.
Portanto, quando a Igreja se interessa pelas coisas do mundo e pelos apelos humanos que a realidade impõe como sofrimento e dor, sobretudo a dor dos inocentes, o faz por amor ao mundo que Deus criou e redimiu. A sacristia é um lugar de passagem para a liturgia. Uma Igreja de sacristia é sinônimo de uma Igreja voltada sobre si mesma, doente e necessitada de conversão. A liturgia, em função da qual está a sacristia, como celebração do mistério pascal, coloca o Povo de Deus no centro da história que foi o derramamento do sangue da Nova Aliança. E a memória deste sangue derramado não permite a indiferença e a omissão.


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Papa reza diante do túmulo do Beato Jacques Laval, missionário espiritano nas Ilhas Maurícias e "Apóstolo dos negros"


Hoje 9 de Setembro, a família espiritana celebra a vida de Tiago Desiré Laval. O Beato Laval
Durante a sua visita a Ilhas Maurícias o Papa Francisco visitou o Santuário do Beato Jacques Laval, Missionário espiritano e rezou diante do seu túmulo 
 O Santuário fica Localizado dentro da Igreja da Santa Cruz, nos arredores de Port Louis, o atual santuário do Beato Laval é de recente construção. De fato, remonta a 2014, ano em que a Igreja em Maurício celebrou o 150º aniversário da morte de Beato Padre Jacques Laval, conhecido como "o Apóstolo dos negros", pois dedicou-se à evangelização dos nativos de Maurício.
A nova estrutura tornou-se necessária pelo constante aumento do número de peregrinos que se reúnem em oração diante do túmulo de Laval, em particular no dia 9 de setembro, memória de sua morte. Atualmente o prédio pode acomodar 250 pessoas, mais que o dobro da estrutura anterior - que remonta a 1870. Além de ter sido restaurado várias vezes, agora está ligado à nova construção por meio de um corredor com colunas.
Uma teca de vidro protege uma representação em cera do Beato, colocada sobre seu túmulo. Ao alto, há um grande crucifixo. Trata-se, de fato, da reprodução da cruz ao lado da qual o padre Laval concordou, pela primeira e única vez, ser fotografado.
Nas paredes circundantes, estão dispostas inúmeras prateleiras onde é possível colocar flores e velas oferecidas pelos peregrinos.
Uma fonte foi colocada no local onde, até há poucos anos, estava o túmulo do Beato que pesa 4,5 tonelada. A reforma do local teve a colaboração financeira também do governo e de outras religiões. Para o projeto da reforma, a Associação dos Arquitetos de Maurício lançou um concurso, vencido pela Sra. Sylvie de Leusse.

                                                     VIDA E OBRA

Tiago Desiré Laval. O  Beato Laval. Tiago Laval nasceu em Croth, Normandia, França, em 18 de setembro de 1803. Formou-se e exerceu medicina, mas depois sentiu o chamado para ser padre e missionário.
“É verdade. Eu hesitei por muito tempo entre o sacerdócio e a medicina. Escolhi a medicina e agora sei que estava enganado. Deus está me chamando. Esta é minha vocação. Como padre serei uma pessoa mais útil. Eu devo seguir a voz de Deus”

Laval foi ordenado em 1838 e serviu como pároco em Pinterville, uma pequena paróquia de 486 habitantes. Ele adorava crianças e tornou-se um professor de catecismo muito estimado. Em 1841, foi convidado por Libermann a trabalhar junto aos 70 mil escravizados recentemente libertados nas Ilhas Maurícias. Desses, três em cada quatro já tinham sido batizados. Marginalizados, eram tratados como “burros de carga”. Embora sozinho, Laval começou a trabalhar com esta população.
Primeiramente, começou por ensinar àqueles que encontrava a amar a Deus e amar uns aos outros. Depois, começou a preparar alguns para se tornarem catequistas, assim como cuidar dos doentes e dirigir grupos de oração comunitária.

Durante a epidemia de cólera que atingiu o país em 1854, 1857 e 1862, ele construiu vários hospitais. Abriu escolas primárias, construiu várias capelas para a formação espiritual e promove a integração social da população. Leva uma vida austera: usa o cilício, dorme no chão, pratica o jejum e passa noites inteiras em oração.
Laval morreu em 9 de setembro de 1864. Cerca de 40 mil pessoas – metade da população da Ilha – foram para o seu funeral, demonstrando a estima que tinham pela sua obra. Muitos milhares de peregrinos de diferentes etnias e religiões visitam seu túmulo cada ano, cantando: “Não tem santo nos céus como o padre Laval”.
Tiago Laval (1803-1864), Missionário Espiritano, é o pai espiritual da Ilha Maurícia. Foi beatificado em 1979 por João Paulo II. Foi a sua primeira beatificação.