Por Lourenço Ndjimbu, CSSp
Superior dos missionários espíritanos em Angola
De 27 de Fevereiro a 21 de Abril do ano em curso, passei pelas nossas comunidades espiritanas de Benguela, Lobito, Huambo, Kuito Bié, Caconda, Lubango, M.Huila, Munhino, Chicomba, Chiulo e Monte Belo. Como sempre, foi muito bom e interessante visitar os confrades e passar com eles alguns dias. Sem proclamar coisas novas, vale sempre estarmos juntos para partilhar e recordar assuntos da nossa vida espiritana e da nossa missão. "Sentinelas" de Crito, nós (missionários) temos permanente necessidade de manter acesa a chama pascal que, como outrora nas Testemunhas da Ressurreição, aquece, renova e fortalece a nossa vida espiritual e o nosso zelo apostólico.
A Páscoa que vivi no Centro Missionário de Chiloquela (a 60 km da sede da Missão de Chicomba, arquidiocese do Lubango) foi efectivamente momento ímpar que me tocou fortemente. A minha fé e o gosto pela minha consagração missionária ficaram mais revitalizados. É simplesmente indescritível o que os meus olhos viram: milhares de pessoas de todas as idades a percorrerem, a pé, mais de quarenta quilómetros, por caminhos sinuosos, até ao lugar da Festa pascal, o Centro de Chiloquela. Nem a chuva conseguiu anular a força interior e contangiante que animava os cristãos daqueles paragens. Os leigos evangelizam-nos! Cada grupo destes peregrinos da fé transportava à cabeça todo o material necessário ao tempo de permanência na Festa pascal. Durante praticamente uma semana o povo dormiu ao relento pois não havia casas para tanta gente. As celebrações litúrgicas foram elas todas bem animadas e participadas. Os diversos grupos corais com os seus regentes deram tudo o podiam. A assembleia correspondeu cantando, vibrando e dançado com muita alegria. Os ofertórios foram “pesados”em bens, sobretudo milho, feijão, ginguba, galinhas, mandioca, etc. Na segunda-feira da Páscoa o padre Nito teve mesmo de mandar a carrinha da Missão para recolher estes bens. Que generosidade! Nada verdade, ninguém pode dizer que não tem nada para dar.
As Missões em Angola são ainda muito extensas. Se houvesse mais missionários, estou certo que os nossos Bispos não olhariam atrás para dividi-las em pequenas parcelas para uma melhor assistência pastoral. Tal como estão nenhum missionário pode pensar que todos os cristãos vão à sede da Missão nos dias festivos ou nos domingos feriais. Que fazer, então? Primeiro, temos de continuar a apostar na formação dos Catequistas, que são o braço direito do missionário. Efectivemente, são eles os primeiros animadores da fé junto dos seus irmãos. Segundo, tal como os antigos missionários, nós temos de deixar os nossos aposentos e ir ao encontro das comunidades cristãs nas suas aldeias ou centros e ficar com eles tempo suficiente. Assim fazendo, estamos a manifestar o nosso zelo pastoral e missionário. A animação pastoral de uma Paróquia é bem diferente da de uma Missão. Não tenhamos dúvida. Instalar-se nos nossos aposentos e pensar ou pedir que os cristãos venham ao nosso encontro é pura ilusão. Evangelizar é ir ao encontro do povo, estar com ele, ouvi-lo no "ondjango" da aldeia. Assim fazendo, a Páscoa acontece em nós e nos nossos irmãos.
Maria, Rainha das Missões, dai-nos muitos e santos missionários!
Luanda, 23 de Abril de 2010